Mestrado - Liana Maria Barbosa

Universidade Federal da Bahia

Curso de Pós-Graduação em Geologia

Dissertação de Doutorado

Barbosa, Liana M. (1997)

Campos de Dunas Costeiras Associados à Desembocadura do Rio São Francisco (SE/AL): Origem e Controles Ambientais

Data de Aprovação: 17.12.1997

Banca Examinadora: Dr. José Maria Landim Dominguez (Orientador), Prof. Abílio Carlos da S.P. Bittencourt, Prof. Kenitiro Suguio, Dr. Louis Martin

RESUMO Na planície quaternaria costeira associada à desembocadura do Rio São Francisco ocorrem expressivos campos de dunas. Ali são reconhecidas duas gerações de dunas, uma inativa já fixada pela vegetação, e outra ativa, bordejando a linha de costa e avançando sobre a primeira.
A integração de informações obtidas através de fotos aéreas, sobrevôos e trabalhos de campo permitiu identificar três províncias morfológicas para os campos de dunas ativas. No trecho a NE da desembocadura do Rio São Francisco estão presentes as seguintes províncias: (a) lençol de areia, caracterizado pela presença de montículos vegetados e dunas de sombra; (b) dunas isoladas e interdunas, consistindo de dunas barcanas de poucos centímetros a 5 m de altura; e, (c) duna composta com 23 m de altura, com dunas menores superimpostas. No trecho a SW da foz desse rio, são reconhecidas as mesmas províncias. Todavia, ao invés de dunas barcanas e duna composta, são identificadas dunas do tipo "zibar" de poucos centímetros a 5 m de altura, além de uma duna de precipitação, com 19 m de altura, associada com numerosos "blow-outs".
No trecho a NE da foz do Rio São Francisco, os sedimentos da face da praia consistem de areia, com diâmetro médio variável entre 1,9 e 3,3 f. Neste intervalo, a fração areia muito fina é dominante em 51% das amostras. No trecho a SW da foz desse rio, o diâmetro médio se situa entre 1,6 e 2,6 f. Esses resultados mostram uma tendência para uma granulação mais grossa nas praias do trecho a SW da foz. Na planície costeira do Rio São Francisco observa-se uma deriva litorânea preferencial de sedimentos de NE para SW. Devido ao efeito de molhe associado à desembocadura fluvial, os sedimentos transportados pela deriva litorânea são retidos no trecho a NE da foz. O trecho a SW da foz é alimentado pelos aportes fluviais de sedimentos. Isso explicaria as diferenças granulométricas encontradas entre os dois lados da desembocadura.
O desenvolvimento das formas de leito eólicas e a migração das dunas ocorre principalmente no período entre agosto e janeiro, quando predominam os ventos provenientes de Leste. A orientação da linha de costa quase transversal aos ventos e a maior disponibilidade de sedimentos na fração fina são responsáveis pela formação das dunas barcanas e duna composta no setor situado a NE da desembocadura. Do outro lado, a orientação da linha de costa quase paralela à direção dos ventos e a menor disponibilidade de sedimentos, devido a maior granulometria dos sedimentos na face da praia, determinam a formação de (i) dunas do tipo zibar, e (i) duna de precipitação, associacla com feições em "blow-outs".
Observações de campo e em fatos aéreas permitiram estabelecer uma taxa média de migração das dunas de 20 a 24 m por ano. Com isto, pode-se inferir um período de 100-200 anos para uma duna migrar da linha de costa atual até a porção mais interna do campo de dunas. Isto sugere que a sedimentação eólica é um fenômeno relativamente recente na história evolutiva na planície quatemária costeira do Rio São Francisco.

ABSTRACT Expressive coastal duneflelds occur on the Quatemary strandplain associated with the São Francisco river mouth. There, two different generation of dunes are identified, one inactive already flxed by vegetation, and another active, bordering the recent shoreline and transgressing over the inactive dunefield.
The integration of interpretation of aerial photographs, ovefflights, and :fieldwork, allowed the identification of three morphological provinces in the active coastal duneficids. In the updrift side of the São Francisco river mouth, the provinces are: (a) sand-shect with shrub coppice and shadow dunes; (b) isolated dunes of the barchan-transversal type up to 5 m high, and interdunes areas; and, (c) a 23 m high compound dune, with superimposed small dunes. The same provinces are recognized in the downdrift side of the river mouth, with two unportant exceptions: the barchan-transversal and compound dune are replaced, respectively, by (i) zibar-type dune up to 5 m high, and (ii) a 19 m high precipftation dune, which is associated with numerous blow-outs.
In the updrift side of São Francisco river mouth, the mean grain size varies from 1,9 to 3,3 f Here, very fine sand donúnate in 51 % of samples. In the downdrift side, the mean grain size varies from 1,6 to 2,6 f. These data show the tendency of the grains to be coarser on the beach sands in the downdrift side. In the São Francisco strandplain the persistent longshore drift is oriented from NE through SW. Because of the groin effect associated with the river mouth, the longshore drift sedirnents are retained in the updrift side. The riverbome sediment nourishes the downdrift side. These observation would explain the difference in grain size disffibution in the both sides of river mouth.
Ile prevailing eastem winds which dominate from August through January favour the development of the aeolian bedforms and the migration of dunes. The shoreline orientation almost transversal to the winds and the great supply of fíne grain sediments contribute to the formation of barchan-transversal types and composed dunes in the updrift side. On the other hand, in the downdrift side the shoreline orientation ahnost parallel to the prevailing winds and the coarser grain size in the beach shoreface, favour the formation of zibar-type and precipitation dunes with numerous blow-outs.
Field and aerial photograph observations define an average rate of dune migration for a 2-m high dune around 20-24 m per year. Therefore, it takes aproxiniately 100-200 years for an isolated dune to migrate from the shoreline, and reach to the more intemal compound dunes. These measurements suggest that the aeolian sedimentation is a relatively recent phenomenon at the Quatemary strandplain of the São Francisco river.

	Barbosa, Liana M. (1997)
	Campos de Dunas Costeiras Associados à Desembocadura do Rio São Francisco (SE/AL): Origem e Controles Ambientais
	Data de Aprovação: 17.12.1997
	Banca Examinadora: Dr. José Maria Landim Dominguez (Orientador), Prof. Abílio Carlos da S.P. Bittencourt, Prof. Kenitiro Suguio, Dr. Louis Martin
RESUMO	Na planície quaternaria costeira associada à desembocadura do Rio São Francisco ocorrem expressivos campos de dunas. Ali são reconhecidas duas gerações de dunas, uma inativa já fixada pela vegetação, e outra ativa, bordejando a linha de costa e avançando sobre a primeira. A integração de informações obtidas através de fotos aéreas, sobrevôos e trabalhos de campo permitiu identificar três províncias morfológicas para os campos de dunas ativas. No trecho a NE da desembocadura do Rio São Francisco estão presentes as seguintes províncias: (a) lençol de areia, caracterizado pela presença de montículos vegetados e dunas de sombra; (b) dunas isoladas e interdunas, consistindo de dunas barcanas de poucos centímetros a 5 m de altura; e, (c) duna composta com 23 m de altura, com dunas menores superimpostas. No trecho a SW da foz desse rio, são reconhecidas as mesmas províncias. Todavia, ao invés de dunas barcanas e duna composta, são identificadas dunas do tipo "zibar" de poucos centímetros a 5 m de altura, além de uma duna de precipitação, com 19 m de altura, associada com numerosos "blow-outs". No trecho a NE da foz do Rio São Francisco, os sedimentos da face da praia consistem de areia, com diâmetro médio variável entre 1,9 e 3,3 f. Neste intervalo, a fração areia muito fina é dominante em 51% das amostras. No trecho a SW da foz desse rio, o diâmetro médio se situa entre 1,6 e 2,6 f. Esses resultados mostram uma tendência para uma granulação mais grossa nas praias do trecho a SW da foz. Na planície costeira do Rio São Francisco observa-se uma deriva litorânea preferencial de sedimentos de NE para SW. Devido ao efeito de molhe associado à desembocadura fluvial, os sedimentos transportados pela deriva litorânea são retidos no trecho a NE da foz. O trecho a SW da foz é alimentado pelos aportes fluviais de sedimentos. Isso explicaria as diferenças granulométricas encontradas entre os dois lados da desembocadura. O desenvolvimento das formas de leito eólicas e a migração das dunas ocorre principalmente no período entre agosto e janeiro, quando predominam os ventos provenientes de Leste. A orientação da linha de costa quase transversal aos ventos e a maior disponibilidade de sedimentos na fração fina são responsáveis pela formação das dunas barcanas e duna composta no setor situado a NE da desembocadura. Do outro lado, a orientação da linha de costa quase paralela à direção dos ventos e a menor disponibilidade de sedimentos, devido a maior granulometria dos sedimentos na face da praia, determinam a formação de (i) dunas do tipo zibar, e (i) duna de precipitação, associacla com feições em "blow-outs". Observações de campo e em fatos aéreas permitiram estabelecer uma taxa média de migração das dunas de 20 a 24 m por ano. Com isto, pode-se inferir um período de 100-200 anos para uma duna migrar da linha de costa atual até a porção mais interna do campo de dunas. Isto sugere que a sedimentação eólica é um fenômeno relativamente recente na história evolutiva na planície quatemária costeira do Rio São Francisco.
ABSTRACT	Expressive coastal duneflelds occur on the Quatemary strandplain associated with the São Francisco river mouth. There, two different generation of dunes are identified, one inactive already flxed by vegetation, and another active, bordering the recent shoreline and transgressing over the inactive dunefield. The integration of interpretation of aerial photographs, ovefflights, and :fieldwork, allowed the identification of three morphological provinces in the active coastal duneficids. In the updrift side of the São Francisco river mouth, the provinces are: (a) sand-shect with shrub coppice and shadow dunes; (b) isolated dunes of the barchan-transversal type up to 5 m high, and interdunes areas; and, (c) a 23 m high compound dune, with superimposed small dunes. The same provinces are recognized in the downdrift side of the river mouth, with two unportant exceptions: the barchan-transversal and compound dune are replaced, respectively, by (i) zibar-type dune up to 5 m high, and (ii) a 19 m high precipftation dune, which is associated with numerous blow-outs. In the updrift side of São Francisco river mouth, the mean grain size varies from 1,9 to 3,3 f Here, very fine sand donúnate in 51 % of samples. In the downdrift side, the mean grain size varies from 1,6 to 2,6 f. These data show the tendency of the grains to be coarser on the beach sands in the downdrift side. In the São Francisco strandplain the persistent longshore drift is oriented from NE through SW. Because of the groin effect associated with the river mouth, the longshore drift sedirnents are retained in the updrift side. The riverbome sediment nourishes the downdrift side. These observation would explain the difference in grain size disffibution in the both sides of river mouth. Ile prevailing eastem winds which dominate from August through January favour the development of the aeolian bedforms and the migration of dunes. The shoreline orientation almost transversal to the winds and the great supply of fíne grain sediments contribute to the formation of barchan-transversal types and composed dunes in the updrift side. On the other hand, in the downdrift side the shoreline orientation ahnost parallel to the prevailing winds and the coarser grain size in the beach shoreface, favour the formation of zibar-type and precipitation dunes with numerous blow-outs. Field and aerial photograph observations define an average rate of dune migration for a 2-m high dune around 20-24 m per year. Therefore, it takes aproxiniately 100-200 years for an isolated dune to migrate from the shoreline, and reach to the more intemal compound dunes. These measurements suggest that the aeolian sedimentation is a relatively recent phenomenon at the Quatemary strandplain of the São Francisco river.