CONTROLES AMBIENTAIS NO DESENVOLVIMENTO DE DUNAS COSTEIRAS DA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

Dr. José Maria Landim Dominguez e Dr Louis Martin

landim@ufba.br
lmartin@pppg.ufba.br



Planície Costeira do Rio São Francisco


Ao longo do trecho da costa brasileira que se estende do Estado da Bahia ao Estado do Maranhão, dunas costeiras ativas estão presentes apenas naqueles setores da costa nos quais pelo menos quatro meses secos consecutivos ocorrem durante o ano. Estes setores estão representados pela planície costeira associada à desembocadura do Rio São Francisco e a costa norte/nordeste do Brasil, entre os estados do Rio Grande do Norte e Maranhão. Adicionalmente deve-se notar que a persistência dos ventos alísios na costa do Nordeste contitui um importante fator secundário favorecendo o desenvolvimento de dunas costeiras nessa região.

Dunas parabólicas e "blow-outs" predominam no Estado do Rio Grande do Norte, sofrendo forte influência da vegetação no seu desenvolvimento, enquanto dunas transversais/barcanas caracterizam o restante do litoral norte até o Estado do Maranhão. As dimensões destes campos de dunas são variavéis, atingindo seu maior desenvolvimento no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (MA), com largura máxima medida no sentido de migração das dunas de 27 km, e se estendendo por cerca de 60 km ao longo da linha de costa. O estudo de imagens LANDSAT e inspeções de campo mostram que associados às dunas ativas atuais, ocorrem campos de dunas antigas cujas relações de truncamento com a linha de costa e outras feições morfológicas indicam serem de provável idade pleistocênica. O estudo de fotografias aéreas verticais, de imagens de satélite e inspeções de campo mostram ainda, que o desenvolvimento dos campos de dunas na região nordeste tem sido episódico, o que parece sugerir a existência de mudanças climáticas durante o Quaternário para esta região. O caráter episódico no desenvolvimento desses campos de dunas é provávelmente controlado por mudanças na precipitação atmosférica. Durante a estação chuvosa (Janeiro -Abril), que está associada com o deslocamento para sul da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) as chuvas quase que ininterruptamente saturam de água a face da praia. Este fato associado com os ventos mais fracos que predominam durante esta época, inibem a remoção da fração fina dos sedimentos da face da praia pelo vento. De outro lado, durante a estação seca (Agosto-Dezembro), quando a ZCIT se afasta da costa, a ausência de chuvas e os ventos mais fortes removem uma porção significativa de areia fina a muito fina da face da praia, depositando-a no campo de dunas adjacente. No campo de dunas propriamente dito, durante a estação chuvosa, a migração de dunas virtualmente cessa e as regiões interdunares são inundadas, originando pequenas lagoas interconectadas que drenam para o mar. Durante a estação seca, com a interrupção das chuvas, a migração das dunas recomeça, ao tempo em que as regiões interduna secam. Assim para o trecho da costa do Brasil situado entre os estados do Rio Grande do Norte e Maranhão, qualquer mudança climática que impeça o movimento da ZCIT para sul durante o verão-outono irá resultar em um decréscimo da precipitação atmosférica, aumentando desta forma o suprimento de sedimento para os campos de dunas, assim como as taxas de migração das dunas propriamente ditas. De outro lado se a ZCIT não se afastar da costa durante o inverno-primavera, a estação chuvosa vai se prolongar e o suprimento de sedimento para os campos de dunas será interrompido, ao tempo em que as dunas cessarão de migrar, favorecendo a sua estabilização pela vegetação.

Esta pesquisa tem por objetivos documentar em escala regional os principais controles ambientais responsáveis pelo aparecimento, distribuição e evolução dos campos de dunas na região costeira do nordeste do Brasil, no trecho compreendido entre a porção norte do Estado da Bahia e o Estado do Maranhão. Objetivos específicos incluem:

A compreensão da dinâmica e dos controles ambientais responsáveis pelo aparecimento e evolução das dunas presentes na região costeira do nordeste do Brasil é fundamental para o manejo ambiental das mesmas. Estas áreas são extremamente sensíveis devido à sua propensão para mudança mesmo quando submetidas a pequenos estresses ambientais. Pequenos distúrbios podem resultar em danos e mudanças progressivas a longo prazo. Adicionalmente o estudo dos campos de dunas costeiras do nordeste e a datação pelo método do Carbono-14 das suas diferentes fases de construção, contribuirão para a compreensão e documentação de mudanças climáticas quaternárias que afetaram o Hemifério Sul.


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