DISSERTAÇÕES DE MESTRADO
 

D'El-Rey Silva, Luiz J. H. (1984)
                     Geologia e controle estrutural do depósito cuprífero Caraíba - Vale do Curaçá,
                     Bahia, Brasil.
 
Data de Aprovação: 20.12.1984
 
Banca Examinadora: Dr. Gabriel E. Gaál (Orientador), Dr. Ian Davison,
                                                                            Prof. Shiguemi Fujimori.
 RESUMO
                     No Vale do Curaçá, situado na parte norte-nordeste do Estado da Bahia, ocorrem cerca de três
                     centenas de corpos máfico/ultramáficos potencialmente portadores de sulfetos de cobre,
                     encerrando uma dezena de depósitos atualmente conhecidos, destacando-se dentre eles a mina
                     Caraíba, a segunda maior jazida de cobre do País, com cerca de 185 milhães de toneladas de
                     minério a 1% Cu, em média.

                     Possivelmente entre 2,6 e 2,0 Ga instalou-se na crosta arqueana um sistema ``rift'' norte-sul, com
                     cerca de 300 a 400 km de comprimento norte-sul, tendo nele se implantado uma suíte de litologias
                     supracrustais (sedimentos quartzo-feldspáticos, anfibolitos, rochas calcosilicatadas, quartzitos,
                     formação ferrífera) a qual foi deformada e metamorfisada em três eventos principais, seguidos de
                     pelo menos dois eventos tardios (cisalhamentos e falhas ou dobras abertas) de menor importância
                     na montagem do arcabouço geológico.

                     Os corpos máfico/ultramáficos, derivados de magma parental toleítico, foram intrudidos
                     pré-tectonicamente como ``sills'' diferenciados. A presença de mineralização é função do estágio
                     inicial de diferenciação, sobretudo relacionada com os níveis basais de composição
                     ortopiroxenítica. Os corpos onde predominam tipos gabróicos e gabro-noríticos são normalmente
                     estéreis.

                     O depósito Caraíba é o maior dos corpos hipersteníticos conhecidos e ocorre associado a uma
                     suíte magnesiana (gabro-noritos, wherlitos, lherzolitos, serpentinitos) não mineralizada
                     (potencialmente niquelífera), sendo que a primeira mostra-se mais jovem do ponto de vista
                     estratigráfico, ainda que ambas sejam pré-tectânicas.

                     O sistema ``rift'' foi fechado com o advento de duas fases iniciais de deformaçães, as quais
                     geraram movimentos de cavalgamento (``thrusting'' e ``understhrusting'') supostamente no sentido
                     de este para oeste (1a fase) e de sul para norte (2a fase), em cada uma das quais foram colocados
                     corpos estratóides de ortognaisses de composição tonalítica e granodiorítica.

                     aA pilha original foi então espessada e submetida a metamorfismo anfibolítico alto (M1) e
                     granulítico (M2). Durante F1/M1 ocorreram intensos fenâmenos de transposição e migmatização,
                     gerando as dobras intrafoliais (D1) trapeadas ao longo do bandamento metamórfico S1. Durante
                     F2 foram produzidas dobras D2 apertadas com plano-axial E-W a N60oW, com mergulho 20oS e
                     eixos horizontalizados.

                     A consolidação crustal veio com uma terceira fase de deformação, de esforço compressivo E-W
                     muito forte, que gerou dobras apertadas a abertas, com planos axiais verticalizados, xistosidade
                     plano-axial penetrativa regionalmente e eixo de atitude norte-sul, com caimento médio de 16o a
                     20o para sul na região da mina Caraíba. Concomitantemente, ocorreu um enxame de intrusães de
                     corpos graníticos potássicos elongados N-S e paralelos com as estruturas regionais, inclusive a
                     intrusão do sienito Itiúba, hoje uma serra com cerca de 200 km norte-sul e 10 km este-oeste.

                     Esta última fase principal se deu em condiçães de metamorfismo anfibolito alto/localmente
                     granulito, e esteve associada a fortes transposiçães e migmatização.

                     Como resultado, o corpo Caraíba é hoje um cogumelo (Fig. 2 de interferência de Ramsay, 1967)
                     resultante da superposição de um sinforme D3 sobre as dobras D2, com eixo N60oW. Essa
                     estrutura está posicionada no flanco oeste do grande antiforme D3 Caraíba, flanco esse que tem
                     direção N20oW e mergulho acentuado (70o) para oeste/sudoeste.

                     Os sulfetos de cobre foram concentrados nas charneiras das dobras D2, ao longo de corpos
                     cilíndricos paralelos ao eixo B2 e à lineação L12, originalmente horizontalizados, portanto, mas
                     tendo continuidade limitada.

                     O corpo mineralizado Caraíba apresenta em superfície, na sua parte central, uma seqüência de
                     quatro charneiras de dobras D2, com eixos B2 verticalizados pela superposição do sinforme D3
                     apertado, o qual tem eixo B3 caindo em média 16o a 20o para sul, mas que tem caimento abrupto
                     (80o) para norte na parte central, como resultado da acomodação à atitude pós-D2 e pré-D3 do
                     corpo mineralizado naquela parte da jazida. O minério está então controlado ao longo de charutos
                     verticalizados descontínuos.

                     Os teores de cobre se distribuem de forma muito heterogênea, horizontal e verticalmente na jazida,
                     como resultado da intensa história evolutiva, implicando em diluição inevitável nas atividades de
                     lavra a céu aberto e subterrânea para os métodos de extração em andamento.

                     A mina encontra-se em operação de lavra a céu aberto, com produção de quatro milhães de
                     toneladas de minério/ano, a 0,83% Cu em média, e preparação para início de lavra subterrânea
                     (previsão de 1.800.000 toneladas de minério/ano a 1% Cu, em média) tendo a infra-estrutura
                     global atual vida útil prevista para mais 11 anos.

                     É proposto um modelo geotectânico global para a evolução do Vale do Curaçá, serra de Itiúba,
                     Vale do Jacurici (``Cr-belt''), rochas do Grupo Jacobina Inferior e quartzitos da serra de Jacobina,
                     como hipótese de trabalho.

 ABSTRACT
                     The Caraíba deposit, located in the northern part of Bahia State, in the Curaçá river valley, is a
                     chalcopirite/bornite-bearing mafic/ultramafic sill, derived from a tholeiitic magma, which was
                     intruded into a volcanic-sedimentary sequence composed of quartz-feldspar gneisses, leptinites,
                     banded iron formation, calcsilicate rocks and amphibolites.

                     Probably between 2.6 and 2.0 Ga, that sequence was deposited and submited to at least three
                     main tectonic-magmatic events. The first two deformational events were thrust-undesthrusting
                     types, producing a crustal thickening by interleaving of the layers and injection of several G1 and
                     G2 orthogneissic sheet-like intrusions, tonalitic/trondhjemitic and granodioritic in composition.

                     Amphibolite and granulite facies metamorphism acomppained the first and second phases, resulting
                     in a mixed pile with a strong metamorphic S1 foliation with transposed N-S trending D1 intrafolial
                     folds, followed by N60oW trending tight folds.

                     After the horizontal tectonic regime a strong E-W compressive stress field resulted in a regional
                     sequence of tight to open D3 folds with N80oS axial planes and 16o to 20oS plunging regional
                     axes. M3 metamorphism reached high-amphibolite to locally granulite facies and, together with a
                     strong deformation, created a very strong and penetrative foliation, S3, marked by oriented
                     quartz-plagioclase-biotite-hornblende crystals.

                     Many of syntectonic pottassic lens shaped granitic bodies, were intruded during F3, including the
                     huge Itiúba syenite, all of them strongly foliated and with a characteristic pink-red colour.

                     As a result, the Caraíba copper deposit is now a lobate interference pattern (type 2 of Ramsay,
                     1967) between a D3 tight synform positioned on the 70oW dipping limb of the major N-S trending
                     D3 Caraíba antiform, refolding the recumbent tight D2 folds. The sulphide mineralization is now
                     concentrated along vertical and disrupted rods which marked originally a horizontal N60oW
                     lineation (or B2).

                     Because of this poliphase tectonic-metamorphic history with associated strong migmatization, the
                     copper content is very heterogeneously distributed inside the pyroxenitic/noritic host-rocks, adding
                     difficulties to the mining works, mainly the underground operations.

                     Two later events of shearing are also described and probably one fourth folding phase, but not
                     important for the ore control.

                     A very hypothetical regional tectonic rift-valley system is proposed for the crustal evolution of the
                     Curaçá region, Itiúba syenite and the Cr-belt on its eastern side, and the Jacobina Group, all of the
                     them enclosed between two Archean blocks.