Universidade Federal da Bahia


Curso de Pós-Graduação em Geologia

Dissertação de Mestrado


de Azevedo, Hélio Carvalho Antunes (1980)

Geologia e mineralizações auríferas da área de Silvina, Rio de Contas - Bahia.
Data de Aprovação: 04.07.1980
Banca Examinadora: Dr. Anton Brown (Orientador), Dr. Alcides Nóbrega Sial, Dr. Reinholt Ellert.
RESUMO Este trabalho foi desenvolvido numa área de 30 km2, situada próximo ao Pico das Almas, no bordo ocidental.da Chapada Diamantina, no Estado da Bahia, região historicamente conhecida por suas mineralizações auriferas.

Rochas metavulcânicas e metassedimentares de derivação vulcânica, pertencentes ao Grupo Rio dos Remédios, e uma sequência metassedimentar de metaconglomerados e quartzitos do Grupo Paraguaçu afloram na área, estando cortadas por diques básicos de composição gabróica.

As metavulcânicas são predominantemente piroclásticas, embora rochas aparentemente extrusivas (derrames) tenham sido reconhecidas. Características vulcânicas e explosivas são claramente observáveis em láminas delgadas, embora algumas feições texturais maiores tenham sido intensamente obliteradas pela grande alteração e deformação destas rochas.

O caráter ácido admitido em geral como predominante nas rochas vulcânicas da Chapada Diamantina não foi confirmado nas determinações de elementos maiores efetuadas. Estas revelaram empobrecimento em silica e álcalis e enriquecimento em ferro, magnesia e alumina. Tais resultados podem no entanto refletir processos de lixiviação e alteração hidrotermal sofridas pelas vulcânicas.

Foram encontradas evidências da atuação de processos epiclásticos, erodindo as rochas vulcânicas, indicadores da existência de hiatos no vulcanismo.

Na seqüência metassedimentar do Grupo Paraguaçu, sotoposta discordantemente às rochas vulcânicas, puderam ser mapeados quatro níveis estratigráficos: quartzito superior (Ppq1), metaconglomerado superior (Pepcg2), segundo nível de quartzito (Pepq2) e metaconglomerado basal (Pepcg2).

Os metaconglomerados de ambos os níveis, petromíticos e mal selecionados, a presentam seixos de quartzo leitoso, quartzito, metarenitos e rochas vulcânicas. Os seixos provêm das litologias do Grupo Rio dos Remédios e, conforme a direção estabelecida para as paleocorrentes, a área fonte parece situar-se a W/SW, enquanto o caráter imaturo dos conglomerados sugere um transporte e deposição relativamente rápidos.

Os quartzitos são relativamente puros na sua unidade superior (Pepql), sendo mais argilosos e conglomeráticos em alguns níveis da unidade inferior, onde também são abundantes marcas de onda e estratificação cruzada.

Todas as unidades litológicas mapeadas compõem o flanco ocidental de uma estrutura maior, em sinclinal, de eixo NW/SE, apresentando dobras-menores do tipo "Chevron" e estando bastante fraturadas. Os planos axiais são verticais a subverticais com vergências para SW ou NE.

Os estudos indicaram, no minimo 6 fases de deformação e uma perfeita concordância estrutural entre os domínios ígneos,  metavulcânicos e metassedimentar da área. Em decorrência, admite-se que os diques básicos aí existentes introduziram-se cedo, não tendo maior relação com os veios de quartzo mineralizados que fortuita associação espacial.

As mineralizações auríferas da área, são encontradas em aluviões e principalmente nos veios de quartzo. Nestes últimos, o metal está concentrado em fraturas ou cavidades, não sendo geralmente visível a olho nu.

Nítido controle estrutural das mineralizações em veios foi verificado, através do estabelecimento da existência de pelo menos duas gerações de veios: uma relacionada ao dobramento geral da área, compreendendo os veios de direção NW/SE, mineralizados; e a outra associada a falhamentos e fraturamentos posteriores, englobando veios não mineralizados, geralmente de direção NE/SW.

Os corpos de metaconglomerados não revelaram concentrações econômicas de ou detectado na matriz e nos seixos destas rochas. Tal fato se atribui à ausência de processos de.retrabalhamento destes conglomerados, como atesta seu caráter imaturo.

Teores anômalos de ouro, em relação aos referidos na literatura mundial, foram encontrados nas litologias da área. As maiores anomalias foram registradas nos sedimentos, nas frações mais grosseiras ou com estruturas sedimentares conspícuas e, na seqüência vulcânica, entre as rochas tufáceas e os membros mais grosseiros da seqüência metassedimentar associada. Isso reflete um controle litológico das mineralizaçoes e se admite remobílização do ouro para os veios de quartzo à época da deformação principal, provavelmente ligada a percolação intensa de fluidos hidrotermais pelas rochas e zonas de extensão.

À falta de uma nitida ligacão com plutons graníticos ou com fontes magmáticas externas, considera-se uma origem sinsedimentar para as mineralizações de ouro na área de Silvina.

ABSTRACT The present study was undertaken in a mineralized area of about 30 square kilometres, near Pico das Almas, in the western part of the Chapada Dlamantina, State of Bahia, wich is well known for its gold mineralizations.

The area is underlain by metavolcanic and volcanoclastic rocks of the Rio dos Remédios Group, and a sequence of metaconglomerates and quartzites of the Paraguaçu Group, both intruded by gabbro dykes.

The metavolcanic rocks are largely coarse pyroclastic and tuffs, thouch flows have been recognized. Their volcanic and explosive nature is clearly detected in thin section, even though many textures are strongly obliterated by alteration and deformation the rocks have undergone.

The acidic natures, widely regarded as predominant in the Chapada Diamantina, has not been confirmed by the major elements compositions, which shows impoverishment in silica and alkalis, and enrichment in iron, magnesid and alumina. These results are interpreted as a result of the intense metasomatic process these rocks underwent since their formation.

There is some evidence for erosion ot the volcanic rocks.

Four stratigraphic units were mapped in the meta-sedimentary Paraguaçu Group, wich lies discordantly above the volcanic rocks. These are: upper quartzite (Pepq1), upper metaconglomerate (Pepcg2), second quartzite band (Pepq2), and basal metaconglomerate (Pepcg2).

The poorly sorted petromictic conglomerates of both units contain pebbles of white quartz, quartzite, meta-arenite, and volcanic rocks. The pebble lithologies match those of the Rio dos Remédios Group. Pa1eocurrent directions established in this study indicated the source area to lie to the west or southwest of the study area. The high degree of immaturity of the conglomerates suggest a rapid transportation and deposition.

All the mapped unit lie on the western flank of a large syncline trending NW-SE, exhibit, chevron-style minor folds, and are strongly fractured. The fold axial planes are vertical or dip steeply to the SW or NE.

The study indicates at least 6 phases of deformation and a complete structural concordance of the igneous, vulcanic and sedimentary domains. Thus the basic dykes were lntruded early, and., other than a spatial coincidence, have no important relation with the quartz veins.

Though alluvial gold concentrations are known in the area, the principal occurences are in fractures and cavities in quartz veins.

A clear structural control of the vein mineralization was established in the existence of at least 2 generations of veins. One, striking NW-SE, and related to the general folding of the area, is mineralized. The other unmineralized sets are associated with post-folding fracturing.

The metaconglomerates show no economic concentrations of gold: although the metal has been detected in the matrix and pebbles. This is attributed to the immaturity of the conglomerates.

Anomalous contents in relation to reference values in the world literature, were encountered in some rock types. The largest anomalies were measured both in the larger-size fractions of the sandstones or in the those with conspicuous sedimentary structures in the metasedimentary sequence and in the tuffs and coarser metasediments in the volcanic sequence. This reflects a primary lithologic control and suggest remobilization of gold into quartz veins during the main deformation phase, when there probably was a strong circulation of hydrothermal fluid sthrough rock pores and extension zones.

The lack of a clear connection with granite plutons or other external magmatic sources, points to a synsedimentary origin for the ore in the area of Silvina.