Universidade Federal da Bahia


Curso de Pós-Graduação em Geologia

Dissertação de Mestrado


Lindenmayer, Zara Gerhardt (1982)

Evolução geológica do Vale do Rio Curaçá e dos corpos máfico-ultramáficos mineralizados a cobre.
Data de Aprovação: 25.10.1982
Banca Examinadora: Dr. Yociteru Hasui (Orientador), Dr. Eduardo Antônio Ladeira, Dr. Umberto Raimundo Costa.
RESUMO A região do Alto Vale do Rio Curaçã, situada próxima ao limite norte-nordeste do Craton do São Francisco, norte do Estado da Bahia, e formada por um embasamento de composição tonalítica a quartzo monzodiorítica, com níveis gábricos, sotopostos a uma seqüência supracrustal, de caráter pelítico na base e químico no topo. As rochas supracrustais estão representadas por leptinitos grafitosos, gnaisses quartzo-feldspáticos, cordierita-silimanita-granada-biotita gnaisses, anfibolitos, magnetita-quartzitos, diopsiditos e olivina mármores, semelhantes aos sedimentos plataformais arqueanos.

Ao longo do vale distribui-se uma série de pequenos depósitos de cobre, além de Caraíba, a segunda maior-jazida brasileira desse metal, todos hospedados em rochas máfica-ultramáficas encaixadas na sequência supracrustal.

As rochas máfica-ultramáficas constituem sills ou intrusões sub-concordantes diferenciadas, que gradam de hiperstenitos na base a noritos, gabro-noritos e anortositos no topo.

A ausência de rochas ultramáficas portadoras de olivina e as características de quimismo das rochas hospedeiras dos depósitos, indicam que essas intrusões sejam provenientes de um líquido basáltico toleiítico, já diferenciado em profundidade.

As concentrações econômicas de cobre estão associadas aos corpos intrusivos estratificados que mostram hiperstenitos em sua base, enquanto que disseminações de sulfetos de baixo teor ocorrem em corpos máficos de composição gabro-anortosítica, sugerindo que a existência dos depósitos de cobre esteja condicionada pelo estágio de diferenciação em que o líquido basáltico toleiítico se encontrava ao intrudir a sequência supracrustal.

A presenca de intrusões mineralizadas sempre em contato direto com sedimentos carbonáticos, aliada à existência de sulfetos associados a grafita bem como a existência na jazida de Caraíba, de sedimentos carbonáticos portadores de níveis de anidrita, possíveis evaporitos, em íntima associação com o minério, são fortes sugestões de que a assimilação de enxofre das encaixantes tenham tido um papel importante na formação desses depósitos.

0 conjunto embasamento, sequência supracrustal e intrusões máfico-ultramáficas, de características geológicas muito semelhantes aos denominados terrenos gnáissico-granulíticos arqueanos, foi submetido a metamorfismo da facies granulito e posteriormente retrabalhado durante o evento Transamazônico (1.800-2.100 M.A.), resultando em diaftorese à facies anfibolito, migmatização parcial e intrusão de rochas graníticas. Com a ascenção lenta e progressiva do pacote, as reações diaftoréticas continuaram a se processar, localizadas principalmente em zonas de cisalhamento e/ou alívio de tensão, imprimindo às rochas, localmente, paragênese da facies xisto verde.

ABSTRACT The Rio Curaçá Valley on the northern part of the São Francisco craton in the State of Bahia, is formed by a basement of tonalitic to quartzmonzodioritic composition with gabbroic levels. The basement is overlain by a mainly sedimentary supracrustal sequence which, similarly to other Archean plataformal sediments, is pelitic at the base and chemical at the top.

The Caraíba copper orebody as well as other small copper deposits in the district, are hosted in mafic-ultramafic rocks within the supra crustal sequence. The mafic-ultramafic rocks are sills or sill-like differentiated intrusions grading upward from hyperstenites through no rites and gabbro-norites to anorthosites at the top. Economic concentrations of copper in the area are associated tolayered intrusive bodie showing hyperstenites at the base. Low-grade sulphide disseminations occur within mafic bodies of gabbroic, noritic to anorthositic composition lacking hyperstenites.

The absence of olivine-bearing ultramafic rocks and the chemical characteristics of the mafic-ultramafic host rocks indicate that the source material was a basaltic-tholeiitic melt, differentiated prior to intrusion. Copper mineralisation seems to have been conditioned by the stage of differentiation of the tholeiitic melt when it was intruded in the supracrustal sequence.

It is also suggested that assimilation of sulphur from the country rocks played an important role in the formation of the deposits. This is show by 1) the marked association of mineralised intrusions with carbonate sediments; 2) the common presence of sulphide-bearing graphitic levels within the mineralised intrusions; and 3) the location of the major orebody in intimate association with carbonate-bearing levels of anhydrite, probably of evaporitic origin.

The basement, the supracrustal sequence and the mafic-ultramafic assenblage, which exhibit geological characteristics similar to other Arche high-grade metamorphic terranes, were subjected to granulite facies metamorphism. Later they were reworked and retrometamorphosed to thç amphibolite facies with partial migmatisation and intrusion of granitic rocks during the Transamazonian event (1.800 - 2.000 m.y.). As the slow and progressive uplift of the entire metamorphic sequence proceeded, the diaphtoretic processes were maintained, mainly within shear zones and/or within pressure release zones, with local development of green chist parageneses.