Universidade Federal da Bahia


Curso de Pós-Graduação em Geologia

Dissertação de Mestrado


Araújo, Tânia M. F. (1984)

Morfologia, composição, sedimentologia e história evolutiva do recife de coral da Ilha de Itaparica, Bahia.
Data de Aprovação: 21.12.1984
Banca Examinadora: Dra. Zelinda M. A. N. Leão (Orientadora), Prof. Abílio C. S. P. Bittencourt, Dr. Ivan M. Tinoco.
RESUMO O recife de coral de Itaparica ocupa uma extensão de aproximadamente 20 km ao longo das costas leste e sudeste da ilha que está situada na entrada da baía de Todos os Santos, na costa do Estado da Bahia.

Este recife apresenta características significativamente diferentes daquelas descritas para os recifes em forma de franja do oceano Atlântico Norte Ocidental.

Localizado em águas muito rasas, o recife exibe o topo truncado e fica completamente emerso durante as marés baixas. As lagunas recifais são extremamente rasas sendo ausentes as colunas coralinas (Patch reefs) comumente presentes nas lagunas recifais de maiores dimensães. Na zona da frente recifal observa-se a presença de pequenas construçães coralinas apresentando um crescimento cogumelar semelhante ao dos chapeirães descritos para a área de Abrolhos e faltando aí, o chamado sistema de ``Spur and Groove'', que é uma das feiçães mais características da frente recifal dos recifes de corais de outras áreas.

Os corais, as mileporas e as algas coralinas incrustantes são os construtores primários do recife. A fauna de corais é constituída de formas maciças. Faltam, nos recifes do Brasil, os corais ramosos acroporídeos. O número de espécies de corais presentes no recife de Itaparica é inferior à metade do número de espécies descritas nos recifes do Caribe e a maioria dessas espécies brasileiras é constituída de formas endêmicas. Entre essas espécies endêmicas algumas têm afinidade com a fauna caribeana e as outras são espécies remanescentes de uma fauna que existiu no Terciário e foi preservada em um refúgio, na área de Abrolhos, durante os níveis baixos do mar no Pleistoceno.

A periódica turbidez das águas, a limitação de habitats no recife e uma provável disputa entre as espécies mais resistentes, são os fatores que apresentam maior influência no desenvolvimento e na distribuição da fauna de corais da ilha de Itaparica.

As mileporas crescem profusamente nas bordas à sotavento do recife, ocupando uma zona que, no Caribe, é comumente habitada pelos corais ramosos acroporídeos.

As algas coralinas incrustantes contribuem muito mais para a construção da estrutura rígida do recife de Itaparica do que o observado nos recifes caribeanos, formando, na borda externa do recife, uma crosta algal semelhante ao que se observa nos recifes Indo-Pacíficos.

Contrastando com o que está descrito para as áreas recifais do Atlântico Norte, onde há uma predominância de sedimentos carbonáticos, o recife de Itaparica desenvolveu-se em uma província sedimentar de natureza predominantemente terrígena. A fauna de corais de Itaparica provavelmente desenvolveu habilidades para resistir e tolerar a redução da intensidade da luz e a siltação das águas provocadas pela ressuspensão do sedimento do fundo durante a passagem de frentes-frias no inverno.

O recife holocênico de Itaparica desenvolveu-se sobre um substrato rochoso não recifal, com uma taxa de crescimento de 8 m/1.000 anos, que é compatível com a taxa média de crescimento dos recifes de corais das plataformas carbonáticas. A configuração atual do recife, com o topo truncado e exibindo evidências de uma expansão para o interior da ilha, é decorrente dos efeitos das oscilaçães negativas do nível médio do mar que ocorreram, durante o Holoceno, ao longo da costa do Estado da Bahia.

ABSTRACT The fringing reef off the Itaparica Island coast occupies an extension of approximately 20km. The Itaparica Island is located at the entrance of the Todos os Santos bay on the eastern coast of the State of Bahia.

The reef is significantly different from the well-known reefs in the Western North Atlantic. In very shallow waters, the flat top of the reef stays subaerially exposed during low tides. The reef front lack the ``Spur and Groove'' system, but there are small isolated reefs with a mushroom growth form, similar to the ``chapeirães'' described on the Abrolhos area. The back reef zone is represented by extremely shallow lagoons, without patch reefs.

Corals, millipores and incrusting coralline algae are the major framebuilders of the reef. The coral fauna is represented by only massive forms and the number of coral species is less than half of the Caribbean fauna; they are dominantly archaic, endemic species that are the combined result of the isolation of a late Tertiary community preserved on a Pleistocene refuge, on the Abrolhos area, the stress of periodically high turbidity of the Brazilian waters, during winter storms, and the limited variation in habitats of the Itaparica reef. Millepores are abundant on the windward borders of the reef, replacing the ``Acropora palmata zone'' of the Caribbean reefs, and the incrusting coralline algae forms an algal rim similar to that existing on the Indo-Pacific reefs.

In contrast with the predominance of carbonate sediments surrounding most reefs in the Caribbean and in the Pacific, the Itaparica reef is surrounded by sediments which contain over 50% of quartz sands.

The Holocene coral reef of Itaparica was established on a non reefal substrate, a dark green shale of Cretaceous age. The reef accumulated with a rate of 8 m/1,000 years, which is comparable to the average growth rate of coral reefs in carbonate platforms and clear waters. The today's reef configuration with a truncated top which stays exposed during low tides and showing a expansion toward land, is the result of the reef erosion after two falls in sea level that occurred during Holocene time, along the eastern coast of the State of Bahia.