Universidade Federal da Bahia


Curso de Pós-Graduação em Geologia

Dissertação de Mestrado


Lima, Carlos C. U. (1991)

Reconstrução arquitetural da Formação Marizal (Cretáceo Inferior) na Bacia do Recâncavo, Bahia, Brasil.
Data de Aprovação: 21.08.1991
Banca Examinadora: Dr. Geraldo S. Vilas Boas (Orientador), Dr. Arno Brichta, Dr. José M. L. Dominguez.
RESUMO A Formação Marizal (Cretáceo Inferior) é uma unidade derivada de sistemas fluviais e leques aluviais que, na Bacia do Recâncavo, atinge no máximo 50 m de espessura, gradando distalmente de conglomerados a arenitos e lamitos. Os conglomerados podem apresentar-se maciços ou estratificados, sendo que, os primeiros são representados pelas litofácies Cmc (conglomerados maciços suportados por clastos), Cma (conglomerados maciços suportados por matriz arenosa), e Cmf (conglomerados maciços suportados por matriz lamosa), e são atribuidos a fluxos gravitacionais de sedimentos. Os conglomerados estratificados são representados pelas litofácies Cec (conglomerados estratificados suportados por clastos) e Cem (conglomerados estratificados suportados pela matriz), e são resultantes de barras longitudinais, em rios proximais rasos e de baixa sinuosidade. As principais litofácies arenosas observadas são Aa (arenito com estratificação cruzada acanalada), que representa a migração de dunas em canais com produndidades de até 3 m; a litofácies Ap (arenito com estratificação cruzada planar) que resulta da migração de barras transversais e ondas de areia em canais mais rasos e mais largos, e a litofácies Ah (arenito com laminação horizontal), que é o resultado da deposição em períodos de inundação, onde predomina o regime de fluxo superior de leito plano. A litofácies lamosa mais comum é Fm (finos maciços), que resulta principalmente dos depósitos de transbordamento. Outras litofácies presentes na área em estudo são Ab (arenito com estratificação cruzada de baixo ângulo), Ao (arenito com estratificação cruzada de pequeno porte), Fl (finos laminados) e Ahi (arenito com laminação horizontal irregular).

A boa variabilidade lateral dos afloramentos estudados, em exposiçães de algumas dezenas de metros, foi de fundamental importância para a análise dos elementos arquiteturais. Essa metodologia de análise de fácies consiste em subdividir os depósitos fluviais em suites locais, através do reconhecimento de uma ou mais seqüências de oito elementos arquiteturais básicos, identificados a partir da assembléia de litofácies, da geometria interna e da natureza dos contatos superior e inferior. O estudo desses afloramentos revelou nas regiães proximais, a presença dos elementos SG (fluxos gravitacionais de sedimentos) e GB (barras e formas de leito cascalhosas). Distando da fonte, aparecem os elementos arenosos, onde predomina os elementos SB (formas de leito arenosas), LS (lençóis de areia laminada), DA (macroformas de acrescimento para jusante) e menos freqüentemente os elementos LA (depósito de acrescimento lateral) e CH (canais). O elemento lamoso OF (finos de transbordamento) ocorrem em toda área estudada. A distribuição desses elementos e das fácies que os constituem, revelam dois domínios para o modelo deposicional da Formação Marizal. O primeiro representa rios cascalhosos, proximais de baixa sinuosidade, associados a depósitos de fluxos gravitacionais de sedimentos. O segundo é o resultado de rios dominados por canais rasos e largos, com carga de leito arenosa e de sinuosidade baixa a intermediária. Acumulaçães locais do elemento LS são evidências de climas áridos e semi-áridos durante a deposição dos sedimentos que compãem a Formação Marizal. A morfologia dos canais, bem como, o tipo da carga de leito foram fortemente influenciadas por movimentos tectânicos evidenciados, na maioria dos afloramentos por vários falhamentos sin-deposicionais e estruturas de deformação penecontemporâneas.

ABSTRACT The Lower Cretaceous Marizal Formation which is a product of fluvial and alluvial systems, is about 50 m thick in the Recâncavo Basin, BA, Brazil. This formation changes gradually from conglomerates into sandstones and mudstones. The conglomerates have been subdivided into massive and stratified. The former includes Cmc (massive clast-supported conglomerates), Cma (massive sand-supported conglomerates), and Cmf (massive mud-supported conglomerates) lithofacies, all of them as a result of sediment gravity flows. The stratified conglomerates are represented by Cec (stratified clast-supported conglomerates) and Cem (stratified matrix-supported conglomerates) lithofacies. Both are result of longitudinal bars in shallow proximal rivers of low sinuosity. In respect to the sandstones, the main lithofacies are Aa (through cross-bedded sandstones), Ap (planar cross-bedded sandstone), and Ah (horizontal laminated sandstone). The Aa lithofacies is a product of dunes in channels about 3 m deep. The Ap lithofacies is a result of transversal bars and sand waves in shallow channels. The Ah lithofacies is a product of the upper flow regime during flood periods. Among the finer sediments, the most common lithofacies is Fm (massive mudstones), which is mainly a result of overbank deposits. Other lithofacies present are Ab (low angle cross-bedded sandstone), Ao (sandstone with ripple marks), Fl (finely laminated siltstone), and Ahi (sandstone with irregular horizontal lamination).

The presence of good continuous outcrops was essential for the architectural element analysis. This method was used to subdivide the fluvial deposits into one or more sets of eight basic three dimensional architectural elements. These elements were identified according to their lithofacies assemblage, internal geometry, and the nature of the upper and lower contacts. Through the study of the outcrops within proximal regions the SG (sediment gravity flows) and GB (gravel bars and bedforms) elements were identified. Within the distal regions the predominant elements were SB (sandy bedforms), LS (laminated sand sheets), DA (downstream accreted macroforms) and less frequently, CH (channels) and LA (lateral accretion deposits). The OF (overbank fines) element was identified in both proximal and distal regions.

The distribution of these elements reveals two distinct domains within the Marizal Formation depositional model. The first domain represents proximal low sinuosity gravelly rivers associated with sediment gravity flows. The second domain is a result of shallow wide river channel depositional model, with sand bed load and low to intemediate sinuosity. The LS local acumulations are an evidence of arid to semi-arid climates during deposition of the sediments. The channel morphology, as well as, the type of bed load were influenced by tectonic events, which are proven in the outcrops by several sin-depositional faults and penecontemporaneous deformation structures.