II
Encontro de Ex-Alunos e Professores do Turma "A" de 1969 - 3o Científico (3o Co-A) Confraternização de 35 anos, programada para 13 e 14/nov/2004
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Quatro megapixels
Floriano Pastore Jr. Já estávamos na segunda reunião de preparação
de nosso encontro de 35 anos do Colegial, aliás, Científico,
vendo fotos, lembrando nomes de músicas que povoavam nossas mentes
leves naqueles idos de 67, 68 e 69. Incrível, já se foram
5 anos de nosso encontro dos 30, em Penápolis. Foi um nada e estávamos
cinco anos mais velhos, uma perda a mais, dentre os que comemoramos os
30, mas a grande maioria, todo mundo muito em cima, espero. A impressão que me deu foi que Gilberto (hoje, ex-Doidão),
Rui (de há muito, ex-Banana) e eu (Ninho, ex-outras várias
coisas) havíamos decidido organizar o Encontro 35, como forma de
nos permitir e nos obrigar a um pouco mais de convívio. Acossados
pelo tempo e pela estranha vida moderna (uma vez vi este termo substituído
por hodierna, que bem poderia ser traduzida como mistura de um pouco de
odienta com um tanto de moderna), vivemos da casa pro trabalho, ida e
volta, volta e ida, os compromissos formais, os amigos de trabalho, etc,
etc, que nunca ou pouco nos sobra tempo para coisas de outras essências
ou de raiz. E, com certeza, nós três quase não nos
vimos desde o Encontro 30. Pronto, já havíamos nos dado
o presente de nos ver, pelo menos algumas vezes até organizar o
evento. Quando ninguém toma iniciativa ou mostra interesse por algo, é
fácil de se montar uma pequena ditadura naquele ponto específico.
E foi o que fizemos, instalando-nos numa troika ditatorial, decidindo
tudo, ou quase tudo, do que poderia ser nosso Encontro 35: dia, forma,
jeito, quem, quanto, tudo, enfim, era decidido de nossas cabeças,
mas sempre acomodando o que imaginávamos ser o desejo ou aceitação
da maioria. Uma ditadura com ressonância e apelo popular. Gilberto já se encarregou de selecionar músicas dos velhos
tempos e os nomes de músicas, com a idéia de se montar um
CD. As lembranças vieram fáceis, jorrando, alimentadas pela
saudade. Empacamos ao tentar lembrar o nome e orquestra da música
do cinema. Conseguíamos e, por certo, todos, de todas as gerações
que por ali passaram, conseguíamos cantar a tal música:
tchan tchan tchan tchan tchan tchan tchan, lara laran, lara laran, la
ra, la ra ran, la ra, la ra ran.... E tome gosto de piper e cevada na
boca, e tome trombada no escuro, e tome bronca por chegar tarde, e tome
tudo que era de bom, quando até a tristeza, acho, teimava em ser
boa. Tudo no sabor do tempo jovem, tudo ainda por vir. Gilberto, sempre o velho Gil, estava também recolhendo fotos e
tratando de domá-las no tempo e nos modos computacionais de hoje,
tudo com muito boa resolução, podia-se multiplicar, cortar,
fotoshopiar e tudo o mais. Lá estavam Suzel e Cirinéia em
fotos 3x4 de documentos; as deliciosas fotos da festa na casa da Suzel
e da excursão a Urubupungá. Que preciosidades. Nós,
ali, enfileirados para fotos raras. Gostosamente promissores como o tempo
permitia. Intrigava-me o fato de não estar na foto e na festa da
Suzel. Sabe Deus por onde andava, quando todo mundo estava ali. As festas
nem eram tantas, ou melhor, poucas, as brincadeiras dançantes,
imperdíveis. Perdê-las, era perder terreno nalguma paquera
engatilhada. Sem chance! Onde estaria eu? Na foto da excursão me detive demoradamente, face por face, passando
em revista a maravilhosa tropa. Ali estavam todos, uns com cara dos Beatles,
outros com cara de sonho. Eu com cara de tiro-de-guerra. A fila longa,
Jorge, Yamanaka, Sato, Celso, Werner, Pedrinho, Sergio, Zulmira, Gilberto
Marques, Onilson?, Beth, Filó, Dora, encoberta, Miura, Benê,
Ivan, Mazo, duas encobertas, não sei, João Castilho, encoberto,
Zé Corvo, Newton, Ninho, Catatau, Coco, Giembinski, Carlão,
Horst, encoberta, Bila, Alda, Graça, Polê, encoberto, não
sei, Marta, Eliane, Fal, Elisa, Lucilia, Alzira, parece a Suzel, Suzana,
não sei, Fuemi, Dona Sara, Cirinéia e Beth. O sol de cara,
a foto demorando, "anda rápido", e num tem todo o tempo
do mundo pra foto, tem que ver outras coisas, a obra da represa e o almoço
pô, hora do rango e nada de comida. "Vamo logo com esta foto",
a buzina, o motorista, já com fome. O barulhinho da máquina,
"pronto" e todo mundo andando rápido para o ônibus,
pra pegar janela e lugar bom, segura este lugar na poltrona do lado, esperança
é a última que morre, quem sabe ela senta aqui...tava indo
bem, olhando de longe, quem sabe...aqui dá prá conversar
melhor, pelo menos só nós, algo mais cheio, olhando do lado,
a janela, disfarça, disfarça... vai passa, vai passa, passô,
caramba! tá muito animada com as amigas, foi lá pra trás.
Senta aí quem quiser, todo mundo já tá dentro, o
ônibus começa a andar, descendo, tamos indo pro fundo do
buracão, enorme, num acaba mais, as escavadeiras trabalhando, poeira,
muita poeira, o vento toca pro nosso lado, "fecha a janela",
a parede enorme da represa, talvez faça engenharia civil, sei lá...,
esta bacia enorme..., vai ter tanta água assim?..., este paredão
não acaba,... - Com quatro megapixels fica muito boa ... Aqueles megapixels ricochetearam pelas paredes do ônibus, sem encontrar
seu espaço ali. Os que ouvimos a frase nos olhamos sem entender,
o olhar desconfiado, meio desconcertado, a expressão era clara,
Quatro megapixels. O termo continuava insepulto e desencontrado no ar,
tentando achar uma janela qualquer no ônibus, uma saída no
tempo, para que deixassem todos ali tranqüilos de novo. Quatro megapixels!
Que raios queria dizer aquilo? Nossos olhares, sem entender nada, no pequeno
grupo à volta. Gilberto completou - minha câmera digital tem uma boa resolução,
quatro megapixels, e, por enquanto, não vou comprar outra. Vou
esperar um pouco mais e comprar a de cinco... |